QUEM SOMOS


BREVE HISTÓRICO DA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ITANHAÉM

Fundada em 1553, a associação de fiéis denominada IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ITANHAÉM, foi a responsável pela construção da primeira ermida de barro no alto do Morro do Itaguaçu. A ermida de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, essa que foi não só a primeira erigida no Brasil, como também a primeira que, sob tal evocação, se fundou em toda a América.

A Irmandade sempre esteve intimamente ligada ao Convento (antiga Ermida) e as imagens de Nossa Senhora, além de ser grande propulsora da fé católica em todo país.
A Miraculosa imagem da Virgem da Conceição de Itanhaém, tida por alguns historiadores com a mesma que inspirou o Pe. Anchieta a compor o “Poema à Virgem, introduziu no Brasil, a partir de meados de 1560, a devoção a Nossa Senhora. Itanhaém passou a se tornar local de romarias religiosas vindas de todos os cantos e a Irmandade sempre esteve à frente dos trabalhos de acolhida e difusão da fé à padroeira.

Esta imagem, além de possuir uma iconografia única, é marcada por alguns pitorescos fatos. Em certa ocasião foram encomendadas duas imagens, uma de Nossa Senhora da Conceição para Itanhaém e outra de Nossa Senhora do Amparo para São Vicente. João Gonçalo Fernandes, um português vindo da Bahia, fora acusado de homicídio e condenado à morte por enforcamento, recorreu da sentença à Sede do Império na Bahia e à proteção de Nossa Senhora. Na prisão em São Vicente, esculpiu duas imagens da mãe de Jesus. Recebendo a graça de ser absolvido da grave acusação, João Gonçalo levou a segunda imagem para um outeiro chamado Vaporá, de onde um devoto, Francisco Nunes, a trouxe às costas, para o morro "que está no confim desta vila chamada Conceição”. Ao depositarem no altar da ermida de Nossa Senhora da Conceição os devotos viram que se tratava da imagem de Nossa Senhora do Amparo, por estar com o Menino Jesus nos braços. Apesar da surpresa, ficaram com ela, tornando-se a imagem de estima para os itanhaense e até hoje conhecida como Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, ressalta-se ainda que em determinada época, quando os franciscanos já residiam no Convento, consta-se que um dos fades, achou tamanha estranheza uma imagem da Conceição com o Menino nos braços e ordenou que um dos serviçais serrasse a criança, no entanto forte tremor tomou conta do corpo do frade, que desistiu do feito, o fato se espalhou, aumentando mais ainda a fé e a devoção popular, que para todos só confirmava que Nossa Senhora ali queria ficar e ser venerada como Conceição de Itanhaém, e nunca mais cogitou-se a troca das imagens.. Todos os anos no dia 8 de dezembro, ainda feriado nacional, inúmeros devotos acorriam à cidade, a pé, de barcos e sobretudo de cavalos e charretes para louvar, agradecer e pedir graças aos pés da miraculosa imagem da padroeira, depositada no altar-mor do Convento sob a responsabilidade da Irmandade. (Memórias da Senhora da Conceição, fl. 2; Livro do Tombo – Itanhaém, fl. 3).

O aumento da população que se estabelecia no entorno do morro Itaguassú e sua devoção crescente à virgem possibilitou a construção da igreja no lugar da antiga ermida de barro e com a participação ativa da Irmandade na instalação da paróquia Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém no ano de 1561 no mesmo ano a povoação foi elevada à categoria de Villa de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.

Com a expulsão dos Jesuítas da então Villa e consequentemente do Brasil, em 2 de janeiro de 1654, a Irmandade Nossa Senhora da Conceição fez um contrato, cedendo a Igreja e Convento Nossa Senhora da Conceição aos frades franciscanos do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, para que estes se instalassem no alto do morro de Itaguassú, e junto à igreja construíssem o seu convento, sob condição de se um dia esses religiosos abandonassem o mesmo, tudo reverteria de novo em favor da Irmandade e do povo. Em meados de 1830, o Convento era vasto e de sólida construção. Os frades, sentindo a decadência devido ao êxodo da maior parte da população da Vila para o interior, atraídos pela fama das descobertas de minas de ouro e de pedras preciosas, escassearam por completo as rendas do Convento, o que levou os frades a irem, por sua vez, a outros lugares. (Cf. Frei Miguel Provincial in Livro do Tombo do Convento de Itanhaém, pág. 282).

A Irmandade Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém por direito readquiriu esse patrimônio com o abandono do Mosteiro, por parte dos frades, conforme se verifica nos documentos antigos, do Contrato lavrado em 1624 e que se acha na monografia de Benedicto Calixto “A Villa de Itanhaém”.

Em 1752 a Irmandade decide iniciar a construção da rampa ou ladeira que dá acesso ao Convento, subindo o monte a partir da praça. O antigo acesso fazia-se por uma escadaria lateral, bastante íngreme e estreita, com 83 degraus distribuídos em patamares. (Frei Brasílio Rower in “Páginas da História Franciscana”, pág. 290).

Após o incêndio de 22 de março de 1833, o Convento ficou praticamente abandonado, tendo seus bens preciosos sendo consumidos e vendidos pelos Franciscanos, que nenhum tipo de reparo faziam no prédio e já não residiam no local, atendendo a súplica dos devotos é pedido pela Irmandade o confisco dos bens, inclusive do edifício, porém outros freis franciscanos permaneceram no local até 1844 com recomendações de reconstruir o convento, porém nada fizeram, configurando o definitivo abandono do prédio.

Cabe ressaltar que a Irmandade na época era detentora de muitos bens e imóveis, dentre eles a fabulosa corôa, que segundo relatos era doação da família real, essa era uma jóia de súbito valor, de ouro maciço e cravejada de brilhantes e esmeraldas, só utilizada em grandes solenidades, como a Festa da Padroeira e do Divino Espírito Santos, entre esse período, relata Benedicto Calixto de Jesus, que era irmão desta Irmandade, em seu livro “A Villa de Itanhaén”, que em 1834, frei João de Santo Aleixo, talvez desanimado com a decadência do Convento, pós incêndio, fez as malas, inclusive com as relíquias das Irmandade, sem nada comunicar,  um velho escravo que habitava o Convento, percebendo o ato de má fé correu para comunicar os irmãos, que procuraram imediatamente o juiz e obtiveram um mandado de busca, mas chegando ao Convento não encontraram mais o frade e procederam grande diligência, e alcançando-o em próximo ao porto de Piassabuçú no distrito de São Vicente, e ao ordenarem que abrisse sua bagagem, lá estavam diversos objetos e jóias, inclusive a famosa corôa. Tal corôa, constituía-se de grande apreço e importância para a população e nunca saiu da cidade, exceto por ocasião do 36º Congresso Eucarístico Nacional em 1955 no Rio de Janeiro, quando fora solicitada e com escolta do exército foi levada ao evento no Rio de Janeiro. Em anos seguintes uma comitiva Cúria Diocesana de Santos, chega à cidade com a presença do bispo para levar a corôa, alegando que precisavam garantir a segurança da relíquia, mas o atual provedor da Irmandade, saudoso Totó Mendes, que detinha aguarda das jóias, saiu em sua varanda, ao lado da Igreja Matriz, e a viva voz gritou anunciando o fato, logo grande número de munícipes se concentrou tomando a rua e impedindo que a comitiva levasse a corôa.
Anos depois devido ao fato a Irmandade resolveu adquirir um cofre no banco onde manteve a corôa e as jóias guardadas até 1997, quando o banco encerrou os serviços de cofre e a irmandade fez um acordo com o pároco, para que  os bens fossem, em segredo, guardados na casa paroquial.

O estado de abandono parece ter perdurado até 1860, quando consta que a Irmandade teve sua composição reconstituída e iniciou uma grande obra de restauro do Convento, que durou até 1865, quando retornaram às mãos da Irmandade, inclusive os bens e imagens que estava desde o incêndio depositados na Igreja de Sant’Anna, todo esse trabalho contou com grande ajuda do povo e contribuições que vieram de São Paulo, possibilitando a restauração completa da igreja (mas somente a igreja) e recolocado as imagens, que haviam sido transladadas para a Matriz de Sant'Anna, nos seus respectivos altares, exceto uma outra imagem da Virgem (de provável origem portuguesa) que permaneceu na Matriz; obras essas que teriam motivado a retomada de entendimentos entre vigário e Irmandade e o Arcebispo de São Paulo.

Tendo em vista, que grande parte da documentação fora perdida no incêndio e a Irmandade não havia se constituído com personalidade jurídica até a época, quem passou a responder pela edificação foi a Diocese de Santos, a partir de sua criação em 1924, no entanto permanecendo ainda o patrimônio sob a administração da Irmandade até meados de 1970.

A partir da década de 1970, por decisão da Mitra Diocesana de Santos, o Convento passou a ser administrado pelo Instituto Secular das Servas de Jesus Sacerdote, mas a Irmandade sempre esteve dando apoio, inclusive financeiro para reparos emergenciais, no entanto por falta de recursos suficientes o imóvel foi se deteriorando, até que o Ministério Público Federal, instaurou uma ação civil pública, a fim de apurar a negligência na conservação do patrimônio e  levando a Mitra a afastar as irmãs da administração e fechando-o no dia 10/04/2011, ficando o seu acesso impedido, inclusive para a os membros da Irmandade.

Devido a situação estrutural estar em risco, por conta do telhado e da instalação elétrica, um acordo judicial entre a Mitra Diocesana e o IPHAN, possibilitou a realização de algumas obras emergenciais, encabeçadas pelo então pároco local em 2012 e possibilitaram a reabertura do prédio em 23/11/13, que a partir de então começou a ser administrado pela Paróquia local, Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.

Desentendimentos houveram entre a Irmandade e o pároco da época, levaram a interrupção das atividades da instituição, por imposição do padre, ficando a Irmandade impedida de realizar suas atividades no âmbito paroquial por dois anos.

Os trabalhos de manutenção promovidos pela paróquia não foram adequados as normas técnicas de preservação do patrimônio histórico e tão pouco suficientes para garantir o seu bom funcionamento, e a Irmandade foi impedida de participar do processo nesse período, configurando-se em uma situação mais precária.

Em 2016, após relatórios do IPHAN e CONDEPHAAT, que apontaram que o estado de degradação do Convento havia piorado, foi realizada nova audiência judicial, onde um novo acordo foi firmado entre Mitra Diocesana e IPHAN.
Após análise da situação pelos responsáveis da Mitra, constatou-se diversas irregularidades na gestão e incapacidade da paróquia em continuar administrando o local e por isso o novo Bispo Diocesano, recém empossado, Dom Tarcísio Scaramussa, SDO, resolveu firmar um convênio com a Irmandade para que após várias décadas retomasse a gestão do Convento, dada a urgência um contrato provisório foi assinado no dia 9 de julho de 2016 e um ano depois formalizou-se um contrato de gestão de 10 anos, com direito a prorrogação.

A retomada das atividades da Irmandade desagradou ao pároco, que em atitude inusitada e sem o mínimo respeito, levou a corôa e as jóias da Irmandade, entregando-as à Cúria Diocesana, sem prévia comunicação à Irmandade, que até a atualidade não conseguiu mais reavê-la.

Imediatamente a Irmandade, iniciou diversos trabalhos de manutenção e deu início a um grande Programa de Revitalização intitulado “Viva Convento” e, no mesmo dia abriu as portas da Igreja para visitação gratuita, ampliando o acesso do povo à Padroeira.

A Irmandade manteve-se empenhada na gestão e melhorias do Convento, mesmo estando-o com sua estrutura precária, o atual provedor Felipe Moscatello, buscando sempre manter um diálogo próximo com a Mitra Diocesana de Santos, continuou na busca de alternativas para a recuperação do local, promovendo e resgatando o sentimento de pertença da sociedade com o local e consequentemente, contribuindo para crescimento do culto e devoção a Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém. 

Em 2017, os trabalhos da Irmandade à frente da administração do Convento começavam a prosperar e dar os primeiros frutos, quando inicia-se as primeiras propostas de elaboração de um projeto de restauro, a Irmandade através de um acordo com o Governo do Estado consegue um laudo técnico do IPT, no entanto após a conclusão do laudo é emitido pelo órgão um parecer técnico que indica a interdição do prédio para visitação pública em 18/04/2018, após alguns meses a Irmandade se vê sem recursos para a manutenção básica do Convento que permanecia fechado, até que em junho de 2019 é firmado um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta entre Mitra Diocesana de Santos e Ministério Público Federal e, no mês seguinte iniciam-se as obras de manutenção.

Atualmente o Convento encontra-se fechado para obras, mas a Irmandade mantém seu convênio com a Mitra Diocesana, e continua trabalhando em vista de seus objetivos institucionais de preservar a história e a tradição local, contribuir para a revitalização do Convento e sobretudo, resgatar, preservar e difundir o culto à sua Padroeira, Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.